A vida e as outras mulheres cobram muito das mães. Elas devem ser guerreiras, exigentes, disciplinadas, atenciosas. Os filhos devem estar em primeiro lugar absoluto. As roupas melhores, o lazer, os estudos. Tudo deles deve ser o melhor e, se possível, a única coisa na qual se deve investir.
Na cabeça de muitas mulheres, especialmente as mais velhas e também na dos homens, a mãe que ousa fazer algo por ela mesma não passa de uma egoísta. Uma pessoa fútil.
Como assim uma mãe querer sair para dançar? Fazer academia? Um curso? Ter um hobby? Quem nunca encontrou alguém em um evento e teve que encarar como primeira pergunta aquela clássica e chata: mas você deixou seu filho com quem?
Acreditando nessa premissa de que você precisa se anular o máximo possível para ser uma boa mãe, especialmente se você cuida deles sozinha, muitas mulheres vão murchando. A energia para viver vai diminuindo e a gente passa a ficar no automático. No tempo que sobra, dormimos e quem a gente era e o que gostava de fazer vai ficando pra depois.
Assim passam semanas, meses, anos e, para algumas, décadas. Quem passa mais tempo desse jeito, muitas vezes, passa a transbordar amargura e culpa os filhos, quando adultos, por todo esse sacrifício.
Outras adquirem algum problema de saúde crônico ou adoecem de algo grave e algumas partem dessa vida. E mesmo assim, as pessoas ainda encontram uma forma de culpar essas mulheres. “Tá vendo? Fulaninha não se cuidou, por isso tá doente/faleceu”.
Eu acredito em um maternar mais leve. Em que haja escuta, doçura e espaço para eu fazer minhas vontades também. Não dou conta de ser guerreira o tempo todo. Na verdade, nem de guerra eu gosto.
Aprendi de uma forma bem difícil que se eu não me priorizar, especialmente nos cuidados com a saúde, eu não vou conseguir cuidar de ninguém.
Então, se é para ser julgada, prefiro encarar a sociedade com o rosto corado de sol da praia e a mente repleta das ideias e histórias dos livros que eu li no horário do almoço ou quando eu fechei a porta para ter meus momentos sozinha em casa.
Fico triste porque, infelizmente, muitas mães continuam nessa guerra perdida de buscar agradar a um mundo que não vai tomar nosso lugar e cuidar dos nossos filhos quando a gente tombar de exaustão.
A gente precisa encontrar nem que seja 15 minutos do dia para fazer algo por nós mesmas. Pode ser comer um chocolate, dar uma volta no quarteirão, olhar o pôr-do-sol. Escrever uma página desabafando. Chorar um pouco pra aliviar, conversar com uma amiga, ir na academia, assistir tv.
Momentos como esses podem salvar uma vida. Literalmente.