Se tem uma coisa que Maria Antonieta faz bem, mesmo mais de dois séculos depois da Revolução Francesa, é continuar rendendo manchetes milionárias. A última prova disso? Um diamante rosa-púrpura de 10,38 quilates, atribuído a ela, foi leiloado por impressionantes R\$ 71 milhões na Christie’s, em um daqueles eventos que fazem os fashionistas, colecionadores e investidores de luxo suspirarem — ou engasgarem com o próprio champanhe.
Batizada de Marie-Thérèse Pink, a joia é tudo o que um bom enredo de alta joalheria pede: cor intensa, lapidação impecável, assinatura de um designer cultuado (ninguém menos que JAR, o joalheiro mais misterioso e disputado da Place Vendôme) e, claro, uma pitada generosa de história e mito. Mesmo que a pedra só tenha sido lapidada em 1868, décadas depois da queda da monarquia francesa, existe a crença — ou pelo menos o desejo coletivo — de que ela teria feito parte de uma joia ligada à nobreza europeia e, quem sabe, passado pelas mãos da própria Maria Antonieta. Para o mercado de luxo, esse tipo de narrativa vale ouro. Ou melhor, milhões.
O anel, que agora ostenta a tal pedra histórica, foi criado por Joel Arthur Rosenthal, mais conhecido como JAR, que praticamente elevou a joalheria ao status de arte conceitual. Suas peças são raríssimas, feitas quase sempre sob encomenda, e nunca aparecem em vitrines convencionais. Ter um JAR é, por si só, um evento. Comprar um JAR que carrega o nome de Maria Antonieta? Isso, definitivamente, é entrar para a história.
O design da joia ainda presta homenagem direta à realeza: a pedra central é cercada por 17 gemas menores, formando o desenho da flor-de-lis, símbolo da monarquia Bourbon. Uma combinação de delicadeza, poder e um certo exagero dramático que a própria Antonieta aprovaria. Afinal, estamos falando da mulher que transformou o excesso em estilo de vida e virou ícone da moda — e do colapso social — do século XVIII.
O leilão, realizado no último dia 17 de junho, não só quebrou o recorde mundial de preço para diamantes dessa tonalidade, como também tornou o anel a peça mais cara já assinada por JAR. Um feito que reforça o que já é tendência nos bastidores da alta joalheria: o apetite cada vez maior por joias com história, personalidade e, claro, bom marketing. Porque, sejamos sinceros, quando o storytelling é bom, a etiqueta de preço vira detalhe.
Enquanto o mundo acompanha esses lances de milhões com a mesma curiosidade com que assiste a um desfile de alta-costura ou a um episódio de reality show de luxo, a verdade é que a venda do Marie-Thérèse Pink é um lembrete poderoso: no universo da moda e da joalheria, o desejo é sempre uma mistura de beleza, contexto e aquela velha necessidade humana de possuir um pedaço da história — ou pelo menos a ilusão de que sim.
Se Maria Antonieta pudesse dar um último conselho fashionista lá do além, talvez fosse algo entre um suspiro blasé e um sussurro debochado: “Luxo? Sempre. Moderação? Jamais.”


