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Do sagrado ao simbólico a longa jornada do véu de noiva pela história

Desde os primeiros registros da civilização, o véu feminino atravessou séculos carregando significados que vão muito além da estética. Seu uso remonta a tempos antigos, quando cobrir o rosto ou a cabeça representava status social, valores morais e proteção espiritual. Na Antiguidade assíria, entre 1400 e 1100 a.C., já havia normas que regulamentavam quem podia ou não utilizar o véu. Apenas mulheres de posição elevada tinham esse direito. Escravas e prostitutas, por sua vez, não apenas eram proibidas de usá-lo como podiam ser severamente punidas caso o fizessem. O véu, portanto, já se associava à ideia de uma mulher “respeitável”, resguardada, que pertencia a um lar e a uma linhagem — marca que o objeto nunca mais perderia.

Com o Império Romano, o véu adquire novos contornos. Por volta do século I a.C., durante os rituais matrimoniais, as noivas passaram a usar o flammeum, uma peça de tecido translúcido tingida de tons alaranjados, como uma chama. Essa cor não era decorativa: evocava o sangue e, com ele, o início da vida adulta feminina. Protegia-se a noiva de maus espíritos durante a transição entre a casa paterna e a do marido, segundo interpretam pesquisadores como Judith Lynn Sebesta, especialista em cultura romana. A noiva romana, coberta pelo véu, tornava-se intocável, quase sagrada — e completamente envolta na simbologia da pureza e da mudança de estado.

Nos séculos seguintes, com o avanço do cristianismo e a consolidação do casamento como sacramento religioso, o véu passou a refletir valores espirituais ainda mais carregados. Contudo, sua transformação em um símbolo de moda global viria apenas no século XIX, pelas mãos de uma jovem rainha britânica.

Em 1840, a rainha Vitória, então com 21 anos, casou-se com o príncipe Albert em um vestido branco que marcaria gerações. Embora não tenha sido a primeira nobre a usar branco, foi a primeira a transformar a escolha em um gesto público e político. O véu, com cerca de 3,65 metros de comprimento, acompanhava a mesma renda de Honiton usada no vestido — feita à mão por rendeiras do condado de Devon. Vitória dispensou a tradicional tiara real e preferiu uma coroa de flores de laranjeira sobre o véu, gesto que misturava romantismo com posicionamento nacionalista, em apoio à indústria têxtil britânica.

Desde então, o véu tornou-se sinônimo de noiva no imaginário ocidental. Do esplendor do Império Romano à rigidez moral vitoriana, ele foi ressignificado inúmeras vezes. No século XX, essa tradição ganha novos contornos com a figura de Diana Spencer, princesa de Gales, cujo casamento em 1981 marcou uma geração. Seu véu, de tule com mais de 130 metros e milhares de pérolas aplicadas, deslizou pela nave da Catedral de St. Paul como um rio de opulência e romantismo. A imagem percorreu o mundo e firmou, mais uma vez, o papel do véu como elemento essencial da iconografia do matrimônio.

Hoje, embora cada vez mais noivas optem por estilos personalizados e até dispensem o véu, ele continua sendo um dos acessórios mais simbólicos do casamento. Um pedaço de tecido que, ao longo da história, cobriu não apenas rostos, mas também ideais de feminilidade, pureza, tradição e, claro, poder.

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