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Morre Lô Borges aos 73 anos – o legado do gênio mineiro do Clube da Esquina

O Brasil acordou nesta segunda-feira com a triste notícia de que o cantor e compositor Lô Borges faleceu em Belo Horizonte aos 73 anos, vítima de falência múltipla de órgãos após internação por intoxicação medicamentosa. A partida de Lô Borges representa não apenas o fim da trajetória de um artista singular, mas também uma marca definitiva no panorama da música popular brasileira.

Salomão Borges Filho, nome de batismo de Lô Borges, nasceu em 10 de janeiro de 1952 em Belo Horizonte, Minas Gerais. Desde cedo ele conviveu com o violão, a canção e o fervor criativo da cena cultural mineira, formando-se em um ambiente de forte música e de encontros no bairro Santa Tereza, onde se reunia com jovens músicos para tocar, conversar sobre Beatles, MPB e jazz. Sua carreira teve impacto maior quando, ainda aos 20 anos, ele co-produziu com Milton Nascimento o álbum “Clube da Esquina” (1972), considerado um dos pilares da música brasileira moderna. Em paralelo ao projeto coletivo, Lô lançou em 1972 seu primeiro álbum solo, batizado simplesmente de “Lô Borges (álbum)”, também conhecido como “Disco do Tênis” pela icônica capa que retrata um par de tênis.

A importância de Lô Borges para a cultura brasileira é profunda e multifacetada. Ele ajudou a redefinir os contornos da MPB ao somar elementos do rock, folk, jazz, psicodelia e ritmos mineiros com uma sensibilidade única. O movimento Clube da Esquina ganhou força justamente por essa mistura de referências e pela ideia de música como paisagem emocional e geográfica, com Belo Horizonte sendo palco e laboratório desse encontro. Entre suas composições mais celebradas estão “O Trem Azul”, “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo”, “Paisagem da Janela” e “Para Lennon e McCartney”, que permanecem vivas no repertório nacional e internacional. Suas canções foram gravadas por gigantes da música brasileira como Elis Regina, Tom Jobim, Milton Nascimento, entre outros, o que evidencia o alcance e a durabilidade de seu trabalho.

Além de compositor e intérprete, Lô Borges foi influência para várias gerações de músicos, incluindo algum reconhecimento no exterior: por exemplo, o vocalista da banda Arctic Monkeys citou uma de suas canções como inspiração para um álbum. A sua obra atravessa décadas, discografias e estilos, sempre com a marca de quem ouve o violão como paisagem. A capa do “Disco do Tênis” funciona como símbolo dessa ruptura: ao mostrar um par de tênis, o álbum afirma a urgência, o desejo de estrada, de liberdade e de caminhar pela música sem obedecer dogmas.

Com a morte de Lô Borges o Brasil perde um nome fundamental para entender a música feita aqui e o modo como ela pode dialogar com o mundo mantendo raízes. Ele deixa obra vasta, exemplar e uma lição de como arte e lugar podem se entrelaçar, como a esquina de Belo Horizonte virou referencial, como a “esquina” virou símbolo musical e cultural. Que seu legado seja revisitado, ouvido, aprendido e celebrado, afinal, canção que permanece viva é forma de imortalidade.

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