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Hermeto Pascoal: legado do “Bruxo dos Sons” que transformou a música brasileira

Morreu Hermeto Pascoal, aos 89 anos, um dos mais extraordinários criadores da música no Brasil e no mundo. Conhecido como “o Bruxo dos Sons”, ele deixa um legado que ultrapassa estilos, rótulos e gerações. Seu falecimento, ocorrido em 13 de setembro, foi confirmado oficialmente e marca o fim de uma era de inventividade sonora, mas também ressalta o valor duradouro de sua arte.

Hermeto nasceu em 22 de junho de 1936, em Lagoa da Canoa, Alagoas. Desde cedo, mostrou afinidade com o som: tocava acordeão aos 10 anos, aprendendo com seu irmão, e desenvolveu uma musicalidade que rompeu fronteiras. Autodidata na maior parte de sua obra, ele começou a compor partituras apenas mais tarde — mas já havia experimentado com melodias, ritmos e timbres muito antes disso.

Ao longo de sua trajetória, Hermeto colecionou reconhecimento e prêmios. Ele foi vencedor de três Grammys Latinos, incluindo pelo álbum Pra Você, Ilza, uma homenagem linda à sua esposa. Além disso, recebeu títulos honorários, como Doctor Honoris Causa da Juilliard School, e reconhecimento de universidades brasileiras. (Ele foi também laureado pelo Itaú Cultural, entre outros prêmios que destacam sua importância artística e cultural.

Entre as suas obras mais marcantes estão discos que se tornaram referência na música instrumental brasileira: A Música Livre de Hermeto Pascoal (1973), Slaves Mass (1977) e, mais recentemente, Pra Você, Ilza (2024). Ele explorou com coragem formatos, instrumentações e ambientações diversas, misturando o popular, o erudito, o experimental.

Hermeto fez parcerias que atravessaram continentes. Um dos momentos mais comentados foi sua colaboração ou influência junto a Miles Davis, que gravou composições dele no álbum Live Evil. Essa interlocução com o jazz internacional, somada à sua raiz nordestina, fez de Hermeto uma ponte entre mundos musicais, sempre guardando sua identidade sonora.

Sua arte também era marcada pelo uso inventivo dos sons ao redor: objetos do cotidiano — chaleiras, panelas, brinquedos – até animais, vento, água, pássaros – tudo podia virar instrumento e inspiração. Essa sensibilidade mostrou que a música não está apenas nos instrumentos tradicionais, mas em tudo aquilo que escutamos quando estamos atentos. Esse dom de ouvir o mundo e transformar em música fez dele um mago dos sons.

Hermeto Pascoal parte fisicamente, mas sua música permanece viva — nos discos, nos arranjos, nos silêncios entre as notas, nas futuras gerações que se inspirarão em sua ousadia. Seu desejo expresso no momento de sua partida, cercado por amigos, por música, no palco, reflete a entrega de quem viveu para fazer arte. Fortaleza da linguagem musical brasileira encontra nele um de seus mais altos monumentos. Que sua obra continue a soar, a emocionar, a ensinar.

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