Nosso entrevistado da semana é o arquiteto Carlos Otávio. Profissional experiente na área da Arquitetura, também é artista plástico de formação, com participação em algumas exposições de destaque, como no Masp, quando ganhou o prêmio Pirelli Pintura Jovem.
Formado pela Universidade Federal do Ceará em 1987, teve como influências importantes a arquiteta Velbanize Luna, a decoradora Ana Melo e o engenheiro Cesar Fiúza, o que proporcionou uma formação bem rica.
Bastante atuante no segmento de interiores, também tem o lado comercial muito marcante. Além dos projetos dos restaurantes da rede Coco Bambu Frutos do Mar e Vasto, também é autor de outros restaurantes na cidade de Fortaleza, como o Murano e La Bella Italia, entre outros, já que a gastronomia é uma das suas paixões.
Residindo entre Portugal e o Brasil, Fortaleza sedia o seu escritório de arquitetura, com cerca de 12 pessoas, responsáveis por projetos e trabalhos pelo Brasil todo.
Nesse segundo semestre, ele se dedica à mais uma edição da Casa Cor Ceará, onde irá assinar o living principal ” O lar além do mar”, em parceria com a sócia Mirella Gomes para a Breton Fortaleza. O projeto aposta em uma leitura afetiva sobre memória e vivências, em diálogo com o conceito da mostra esse ano.
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Você é super conhecido em Fortaleza por seus projetos para residências e também de empresas, como a grande rede de restaurantes Coco Bambu Frutos do Mar e Vasto. Como se inspirou para a composição desses projetos? Quais os elementos mais marcantes?
Antes mesmo de fazermos os projetos do Coco Bambu, foram seis anos trabalhando nessa área e desenvolvemos praticamente 60 projetos. Foi um tempo de muito aprendizado, com uma grande lição de gestão. Isso porque eram muitos trabalhos ao mesmo tempo em vários estados do Brasil. Para realizarmos tudo, tive que preparar uma equipe e formalizei padrões. Em Fortaleza, também temos vários trabalhos na rua Ana Bilhar e em outros locais, nessa area da gastronomia.
Como arquiteto, a inspiração acontece por meio das diversas informações que a gente vai colhendo, assim como das diversas experiências que a gente vai tendo pelo mundo.
Você mora em Portugal, mas também passa períodos no Brasil. Como tem sido essa experiência?
Eu moro oficialmente em Portugal, mas, a cada dois meses, passo um período no Brasil, em Fortaleza eminentemente. Continuo trabalhando no meu espaço aqui em Lisboa. Ao morar na Europa com o meu marido, temos mais possibilidades de estar tranquilos, caminhar pelas ruas, coisas que a gente tem mais dificuldade de fazer no Brasil. O nosso tempo aqui também aqui é mais dedicado à pesquisa, ao pensamento, à análise e ao desenvolvimento da parte mais intelectual do projeto, da parte mais criativa. Quando estou no Brasil, certamente eu tenho que ir ver muitas obras, vou visitar clientes… Para além disso, alguns trabalhos de Lisboa são de interiores, o que tem sido uma experiência espetacular, porque é voltada para um público totalmente de estrangeiros e fazemos tudo em inglês.
Como diferença entre os públicos, notamos que o brasileiro é mais minucioso, mais exigente, gosta da estética muito mais do que o estrangeiro, que geralmente é mais prático.
O que mais valoriza na vida?
A qualidade de vida. Com a maturidade e uma experiência de quase 40 anos na arquitetura e um pouco mais de vida, eu valorizo meu tempo, as minhas horas de estar livre para pensar, para caminhar, para projetar, porque o projeto não está apenas numa prancheta, mas acontece no seu dia a dia, caminhando, lendo… Adoro ter voltado à literatura, gosto muito de ler e eu fiz isso muito na minha infância e adolescência. Outro aspecto que eu sempre exalto é o da arte. Eu amo a arte! Faço arte do meu jeito, ainda que engatinhando, resgatando o processo como artista já há um tempo. Mas, para além disso, eu gosto de exposições. Me enriqueço com isso! Além de tudo, acho que é fundamental ter o amor em volta da gente. Alguém que você gosta, que esteja do seu lado, que construa a vida juntos. Os amigos também fazem esse leque de proteção ao mundo tão tão conturbado que a gente vive. Então, valorizo demais as amizades e o amor que recebo e dou de volta.
Quais os trabalhos recentes que você tem feito no Brasil e em Lisboa? Nos conte um pouco dos seus projetos profissionais para esse ano.
Nós estamos vivendo um momento muito especial no escritório, com alguns projetos de um peso maior do que interiores, que sempre foi um foco muito grande. Para além dos restaurantes, também estamos com um hotel do grupo Crocobeach, onde assinamos a arquitetura e os interiores, na Praia do Futuro. É um hotel que tem um carinho especial por nós, por ser o nosso primeiro projeto hoteleiro. Temos também um centro comercial em Quixadá, um trabalho que tem sido feito com muito cuidado.
Estamos também com o shopping Estação Fashion, um trabalho também bastante bacana, diferente do que costumamos fazer.
Alem de tudo isso, também estamos com uma reforma num apartamento pequeno, de 120 m, com um jardim lindo em Paris. Ter vindo para Portugal me trouxe essas conexões maravilhosas.
Como será o seu projeto na Casa Cor Ceará de 2025? Quais as suas principais inspirações para compor esse ambiente?
Neste trabalho da Casa Cor, a gente tem uma história pra contar, que serve de inspiração pro trabalho. Isso porque o trabalho não é só material, mecânico ou técnico. Também temos algo de artístico, há uma alma, uma vida a ser construída. Nesse caso, me inspirei na história de uma senhora que vem de Viçosa no Ceará, criou uma carreira diplomática linda, foi para o Oriente, serviu em Paris e hoje é embaixadora do Brasil na Suécia, mora em Estocolmo. Maria Edileuza Fontenele Reis é o nome dela e nós nos inspiramos nessa personagem para criar uma sala elegante de alguém que tenha vivido situações pelo mundo, para contar histórias através de tudo o que ali é representado.
É uma sala com 100 m de amplitude, com uma altura de pé-direito de 6m. Então, é bem impactante, algo cheio de vida e com histórias do mundo, mas com foco no Ceará. O nome desse espaço é o mar além do mar.



