Autor Anna de Lima – Nos anos 2000, a internet era sobre mostrar quem tinha mais glitter no perfil do Orkut. Depois virou competição de selfies com filtros perfeitos no Instagram. Agora, a vibe mudou: todo mundo quer parecer inteligente. Não basta só postar foto bonita na praia, tem que vir acompanhada de uma legenda profunda, uma citação de filósofo que talvez ninguém leu, ou aquele textão explicando o sentido da vida em pleno domingo à noite. O feed virou quase um concurso de “quem tem mais repertório”.
É curioso como a lógica mudou. Antes, o medo era parecer desinformado ou “cafona” nas redes. Hoje, o medo é parecer raso. Gente que nunca se interessou por geopolítica de repente comenta conflito internacional como se fosse colunista de jornal. Virou moda ostentar conhecimento como se fosse bolsa de grife. Só que, muitas vezes, a embalagem é mais importante que o conteúdo. O “ar inteligente” já basta para arrancar curtidas e seguidores.
Claro que essa onda tem seu lado positivo: se antes a internet era um mar de bobagens rasas, agora muita gente busca ler, estudar e consumir conteúdo de qualidade para não ficar para trás. É como se a pressão social empurrasse o usuário a evoluir intelectualmente. Mas também tem aquele detalhe: aprender de verdade dá trabalho, demora, exige esforço. E isso nem sempre combina com a velocidade de um feed que pede novidade a cada segundo.
O resultado? O surgimento de um fenômeno curioso: o “fast food da sabedoria”. São pílulas de frases de efeito, vídeos curtos explicando temas complexos em dois minutos e até threads que resumem livros inteiros em cinco pontos. Tudo prático, rápido e compartilhável. A questão é: estamos realmente ficando mais inteligentes ou apenas melhores em decorar resumos de sabedoria para impressionar a galera?
Talvez o ponto seja esse: a internet adora performance. Se antes a performance era estética, corpo, viagem, look do dia e agora é intelectual. Não se trata só de ser inteligente, mas de parecer inteligente no palco digital. É como se cada tweet fosse uma chance de mostrar que você está acima da média, que entende do mundo, que tem “opinião formada”. Mas, no fundo, muita gente só repete o que já viu em outro lugar, sem aprofundar.
E aí mora o risco: a superficialidade disfarçada de profundidade. O perigo de confundir pose com conteúdo real. Porque se todo mundo está ocupado em parecer inteligente, quem de fato está disposto a estudar, duvidar, errar e aprender de verdade? O conhecimento verdadeiro nasce do processo, e não da foto bem editada do resultado final. Mas esse processo, claro, não rende tanto engajamento quanto uma frase de efeito.
No fim das contas, talvez a internet esteja apenas vivendo sua próxima fase de vaidade. Já fomos vaidosos com a aparência, com os bens de consumo, com a vida social. Agora a vaidade é cerebral. Queremos likes não só pelo que mostramos no espelho, mas pelo que supostamente temos na cabeça. Se isso vai nos tornar de fato mais inteligentes ou apenas mais bons de palco, só o tempo vai dizer. Mas uma coisa é certa: nunca foi tão fashion parecer sábio.