SALETE EM SOCIEDADE

Transporte marítimo em 2025: custos de contêiner em alta preocupam comércio global

O transporte marítimo inicia 2025 sob um clima de alerta. A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) adverte que as pressões geopolíticas, a crescente demanda por contêineres e os investimentos exigidos para modernizar e descarbonizar frotas devem provocar novos aumentos nas tarifas de frete. A previsão reforça a sensibilidade de um setor que responde por 80% da movimentação mundial de mercadorias e que se tornou peça central no equilíbrio da economia global.

De acordo com a CNUCED, o comércio marítimo deve crescer apenas 0,5% em volume neste ano, enquanto o transporte de contêineres deve avançar 1,4%, ritmo mais lento que o registrado em 2024. A persistência de ataques no Mar Vermelho e as tensões no Estreito de Ormuz mantêm elevados os custos de navegação, impactando de forma desproporcional países em desenvolvimento, pequenos estados insulares e economias menos avançadas, que dependem fortemente da importação de insumos básicos.

A reconfiguração das rotas também se tornou inevitável. A disputa comercial entre Estados Unidos e seus principais fornecedores, somada às novas tarifas e inspeções rigorosas em portos norte-americanos, tem forçado armadores a buscar alternativas, resultando em viagens mais longas, escalas canceladas e custos adicionais. Essa instabilidade encarece a cadeia logística, pressiona o comércio exterior e afeta diretamente a competitividade das empresas exportadoras.

Outro ponto crítico é o desafio ambiental. Apesar da pressão internacional para reduzir as emissões, apenas 8% da frota mundial utiliza combustíveis alternativos. As emissões do setor cresceram 5% em 2024 e a transição para modelos mais sustentáveis exigirá investimentos pesados em navios e infraestrutura. A Organização Marítima Internacional prepara para outubro uma decisão histórica sobre a adoção do quadro de emissões líquidas zero, que deve estabelecer padrões globais e incluir um mecanismo de precificação de carbono a partir de 2028. Essas medidas, ainda que fundamentais, tendem a encarecer o preço por contêiner no curto prazo.

A entrada em vigor da Convenção de Hong Kong sobre reciclagem responsável de embarcações, que já cobre 90% da frota mundial, é outro fator que pressiona custos, ao mesmo tempo em que força os portos a modernizar processos e digitalizar operações para reduzir atrasos e congestionamentos. A CNUCED reforça que a eficiência portuária será determinante para evitar sobrecargas financeiras em toda a cadeia de suprimentos.

No campo social, o relatório chama atenção para o aumento recorde de casos de abandono de tripulações em 2024, com milhares de marítimos afetados por salários atrasados e falta de suprimentos essenciais. A Federação Internacional dos Trabalhadores dos Transportes contabilizou mais de 3 mil trabalhadores impactados e mais de 300 navios envolvidos. A atualização da Convenção do Trabalho Marítimo, prevista para 2027, deve reforçar garantias de repatriamento e condições dignas, mas até lá o setor seguirá pressionado pela necessidade de conciliar rentabilidade, direitos humanos e sustentabilidade.

A instabilidade já se reflete nos preços. Após atingirem picos históricos em meados de 2024, as tarifas recuaram, mas continuam altas. A rota Xangai–Nova Iorque, que chegou a US$ 7.285 por contêiner, hoje está em torno de US$ 3.571, enquanto Xangai–Los Angeles recuou de US$ 5.914 para US$ 2.561. Para destinos europeus, como Gênova e Roterdã, as tarifas se estabilizaram entre US$ 1.900 e US$ 2.100, ainda acima da média histórica.

Com margens apertadas, incertezas geopolíticas e pressões ambientais, o setor de transporte marítimo enfrenta um dos momentos mais complexos de sua história recente. Para os países e empresas que dependem da eficiência logística global, acompanhar de perto essa conjuntura deixou de ser apenas uma estratégia — tornou-se questão de sobrevivência competitiva.

Facebook
Twitter
LinkedIn

Apoio Social

SALETE EM SOCIEDADE

Veja Outros Posts Recentes

Por minha vasta convivência profissional durante anos com a sociedade de Fortaleza, aprendi a captar notícias em suas mais preciosas e seguras fontes. Por perceber que no contato com esses registros sociais estava a fonte de minha vocação, resolvi criar meu próprio espaço na mídia virtual, reunindo uma equipe capaz e competente.

© 2025 Salete em Sociedade – Todos os Direitos Reservados