Em mais um texto sensível e profundo, o escritor Capibaribe Neto nos convida a pensar sobre o valor da reconciliação e do perdão, inspirando-se na técnica japonesa do Kintsugi, que transforma rachaduras em cicatrizes de ouro. Uma metáfora poética sobre restaurar relações e ressignificar a vida.
Não se deve buscar reconciliação, no sentido de voltar a viver como se nada acontecido houvera, quando a teimosia inútil de relembrar razões e desculpas para as fraturas expostas ou mesmo as marcas de machucados simples. Se o vaso que um dia foi precioso, mas mal cuidado quebrou, torna-se imperiosa a paciência e o esmero para o restauro, como fazem os japoneses, com jarros de verdade, que usam a técnica Kintsugi, ou Kintsukuroi, que significa “emenda de ouro”.
A técnica consiste em reparar peças quebradas não para esconder as rachaduras, mas para as realçar, utilizando uma laca especial misturada com pó de metais preciosos, como ouro, prata ou platina, que cria veios dourados ou prateados nas junções. Fazendo uma analogia, a reconstrução do “vaso da convivência” perdida pelo descuido com o vaso do amor e da benquerença só é possível com a “laca especial” do perdão. Caso contrário, corre-se o risco de comprometer a paz desse reastauro com o som do ranger dos cacos de lembranças ruins feito um caos continuado.