O dia recolheu-se em silêncio, como se reverenciasse a solenidade que se aproximava. O sopro das ocarinas elevava-se ao ar, anunciando que os preparativos para a celebração dos 94 anos do Ideal Clube estavam consumados. As portas da tradição se abriam para acolher os ilustres convidados, que adentravam o espaço com a certeza de viver instantes de esplendor, impregnados de encanto e de história. Era como se o tempo, em sua nobreza, tivesse preparado um manto de gala para envolver cada presença com a aura da eternidade.
Com a mais elevada distinção, o presidente da venerável agremiação, Fernando Esteves, ao lado de Amarílio Cavalcante, resplandeciam não apenas em olhares cintilantes, mas em uma expressão que refletia a alma. Os sorrisos, generosos e marcantes, revelavam a satisfação de quem tem consciência do legado que carrega e da missão de preservar o Ideal Clube como símbolo de união e grandeza. Recebiam a todos com gestos que eram mais que cortesia: eram declarações silenciosas de afeto, propósito e realização, capazes de tocar os corações e perpetuar o sentimento de pertencimento.
A música, rainha das emoções, encontrava morada naquela noite pelas mãos e pela voz de Marcos Lessa, que, em cada acorde e inflexão, conduzia a plateia por trilhas de encantamento. Havia quem se entregasse ao compasso da dança, deixando os corpos falarem o que as palavras não ousavam traduzir; havia também os que, embalados pelo mesmo fervor, entoavam cânticos animados, unindo-se em coro de alegria. A música, como uma ponte invisível, conectava gerações, memórias e esperanças, tornando a noite ainda mais sublime.
E, atentos como guardiães da eternidade, fotógrafos e jornalistas circulavam pelo salão com olhares de águias e mãos de artistas. Cada clique, cada registro, era a tentativa sagrada de aprisionar no tempo a beleza daquele instante, transformando em memória viva aquilo que poderia se perder na fugacidade da noite. Em imagens e palavras, eternizavam a magia que pairava no ar, cristalizando para a posteridade a essência de um momento ímpar que se inscreve não apenas na história do Ideal Clube, mas também no coração de todos os que ali estiveram.
A noite, em seu esplendor, prolongava-se como se desejasse jamais se despedir. No entanto, em sua entrega à passagem das horas, cedeu lugar ao abraço delicado do dia, que surgia timidamente no horizonte. A brisa suave, soprando das águas alencarinas, trazia consigo a poesia dos ventos e, entrelaçada aos reflexos luminosos do firmamento, coroava de esplendor o amado e congregador Ideal Clube. Era como se a própria natureza rendesse homenagens, selando, com sua bênção invisível, o êxito da celebração que ficará inscrita para sempre na memória afetiva de uma cidade inteira.
De Célia Maria Leite