Quando percebi que meus filhos não me amavam tanto assim?
Talvez meu filho tivesse uns oito anos quando aconteceu a primeira crise de raiva. Pegou a fofa almofadinha lembrança do Dia das Mães da escola, que exibia nossa foto juntos, e riscou furiosamente de caneta. Eu tentei fingir que não sentia nada, embora a princípio tenha me dado vontade de rir, mas senti o impacto. Não lembro o motivo.
A adolescência chegou. Arrumando o seu quarto, vi uma carta que caiu de um caderno. Em letras garrafais e com muita força, dizia que me odiava várias vezes e descrevia todas as minhas falhas ao decorrer dos anos.
Minha reação imediata foi chorar. Como aquela criança defensora dos animaizinhos, que escrevia bilhetes de amor alguns anos antes, tinha nutrido ódio a mim? Eu, que me achava tão doce e perfeita?
Olhando aquela escrita furiosa, fiz uma autoanálise. Demorou, mas percebi que não era a super mãe. Era desatenta, tratava os dois filhos de forma desigual e não sabia como lidar com a adolescência. Por fim, percebi que ele tinha toda razão de ter essa raiva. Mas demorou alguns anos para que eu me desse conta disso.
Aos 17, fizemos as pazes. Sei que ele não me odeia, mas temos nossos pequenos desentendimentos, como todo filho com sua mãe. No entanto, foi um longo caminho que envolveu terapia para nós dois, porque meu filho foi diagnosticado com o Transtorno Opositivo Desafiador (TOD), que traz uma raiva fora do normal.
Já o meu caçula, de 9 anos, tem suas raivas de mim, chora e se zanga, mas geralmente porque eu não prestei atenção no que ele disse. Ou tirei o tablet. Pequenas bobagens que preciso regrar. Sei que, para isso, não tem como a gente se preparar, mas sinto que a adolescência dele também será desafiadora. Como irei reagir? Melhor seguir o conselho bíblico que nos diz que a cada dia basta o seu mal. Um dia de cada vez. Por hora, vou aproveitar os beijos e abraços.
