Um acidente vascular cerebral (AVC) não ameaça apenas a vida e a mobilidade: ele também é um dos gatilhos mais perigosos para a perda de memória. Segundo uma meta-análise recente, o risco de desenvolver demências — como o Alzheimer — pode ser até 47 vezes maior após um episódio de AVC.
Para a neurologista Sheila Martins, referência nacional no tratamento do AVC e idealizadora da rede de centros especializados no SUS, o atendimento rápido é crucial. “A cada 15 minutos de antecipação no tratamento, reduzimos em 7% o risco de demência”, destaca. Isso porque a interrupção do fluxo sanguíneo no cérebro mata neurônios que guardam memórias e funções cognitivas.
Mesmo quando o paciente parece recuperado, o impacto pode ser silencioso: cerca de 60% apresentam dificuldades cognitivas meses ou anos depois. O neurologista Wyllians Borelli, do Hospital Moinhos de Vento (RS), explica que danos vasculares aumentam a inflamação cerebral e favorecem o acúmulo das placas de beta-amiloide, associadas ao Alzheimer. “O AVC pode acelerar um processo de demência que já estava em curso, muitas vezes sem sintomas claros”, afirma.
A prevenção envolve controlar com rigor hipertensão, diabetes, colesterol alto e obesidade; abandonar o tabaco e o álcool; evitar isolamento social e depressão; e manter atividade física moderada a vigorosa. Para Borelli, o diagnóstico cognitivo logo após o AVC é essencial: “Quanto antes detectarmos alterações, mais chances teremos de frear a evolução da perda de memória”.
