“À guisa de intróito: para não açodar as divergências dentro do contexto dessas divergências absurdas, frágeis e perigosas, que recusam com rigorosa divergência o direito ao contraditório, valho-me do arquivo das inspirações apaixonadas do poeta já cansado e presto homenagem à mulher que só existiu na imaginação (ou não), onde a ficção tem liberdade para campear, lépida e fagueira…”
ALI, deitada, sobre a cama, completa e abençoadamente nua, ela começava, naquele momento a se transformar numa estranha. Voltou-se para as luzes da janela que desenharam a silhueta de seus contornos macios e perfumados. No ar, o eco das últimas palavras mal ditas e malditas, da disputa por razões tolas que não deixoram o bom senso ceder. “Vou embora…” – Você é quem sabe, mas se vai, jogue a chave fora e não volte mais…” Não vou voltar.
Doeu sair, confesso; foi como cortar um cordão umbilical adulto, ligado pelas emoções diretamente ao coração. Ainda me acompanhou na retina, enquanto fazia o caminho em direção a um novo destino, sua visão mágica, deitada, soluçando. O orgulho travou no peito e não cedeu. Os olhos ficaram embaçados, sem controle para esconder a denúncia da vontade de voltar no tempo e apagar tudo. Não dava mais.
Logo o amanhã seria um novo dia, mas a porta continuaria fechada, pelo lado de dentro e definidamente, onde ela ficou com a última nudez para mim.